quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Diabete/ AGEs /doença periodontal
























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ALVES, Crésio; Andión, Juliana e Brandão, Márcia e Menezes, Rafaela. Mecanismos patogênicos da Doença periodontal Associada diabetes melito AO. Arq Bras Endocrinol Metab [online]. 2007, vol.51, n.7, pp. 1050-1057. ISSN 0004-2730.

Os produtos finais da glicação e oxidação não enzimática de proteínas e lipídeos (AGEs - advanced glycation end products) e a interação com seus receptores (RAGEs - receptor for advanced glycation end products), imunoglobulinas presentes na superfície de algumas células com fibroblastos, macrófagos, células do endotélio vascular e do tecido periodontal, são considerados um dos grandes responsáveis pelas complicações crônicas (por ex. nefropatia, retinopatia, neuropatia) em pacientes diabéticos.

Carboidratos aldeídicos ou cetônicos, a exemplo da glicose e frutose, reagem não-enzimaticamente com grupos amínicos livres encontrados em proteínas, para formarem aldiminas e cetiminas, conhecidas como bases de Schiff ou compostos de Maillard. Essas bases são os primeiros compostos a serem formados na reação de glicação e são instáveis. No entanto, períodos longos de glicemia elevada e, sobretudo, se as proteínas utilizadas na glicação pertencerem a estruturas de longa duração (por ex. colágeno, cristalino, mielina, elastina, mioglobina, hemoglobina, lipoproteínas de baixa densidade) fazem com que os complexos de Maillard sofram modificações para ceto-aminas secundárias, conhecidas como arranjos moleculares de Amadori, que os tornam mais estáveis, porém quimicamente reversíveis. As condições que originam esses complexos, quando mantidas, permitem o acúmulo dos AGEs, que por serem moléculas estáveis não se degradam mesmo quando os níveis de glicemia retornam à normalidade. Pele, rins, artérias, capilares e proteínas do sangue são os principais locais de depósito dos AGEs.

A formação dos AGEs está relacionada ao tempo em que o organismo ficou exposto à hiperglicemia. Portanto, quanto maior a duração do diabetes e pior o controle glicêmico, maior será a quantidade desses produtos circulando e acumulados nos tecidos periodontais. O controle da glicemia provavelmente é uma das poucas, se não a única, maneira de reduzir a formação dos AGEs.

A associação dos AGEs com seus receptores (RAGEs) estimula a produção excessiva, por macrófagos, de mediadores inflamatórios como a interleucina 1 e 6, fator de crescimento I, fator de necrose tumoral alfa, prostaglandina e fator estimulador de colônias dos granulócitos. Essas substâncias estimulam a transformação do colágeno em compostos menos solúveis, mais resistentes à ação de enzimas e menos flexíveis, o que contribui para a dificuldade de cicatrização encontrada em pacientes diabéticos. Elas também ativam osteoclastos e colagenases, conduzindo à destruição do osso e tecido conjuntivo, aumentando a progressão e severidade da doença periodontal.

Simultaneamente, a infecção periodontal, condicionada por células fagocitárias com monócitos, pode induzir a um estado crônico de resistência à insulina, contribuindo para o ciclo de hiperglicemia. O acúmulo dos AGEs aumenta a trilha clássica da destruição tecidual, resultando em doença periodontal mais grave e em maior dificuldade de controlar a glicemia do diabético.

O retardo na ocorrência dessas complicações pode ser alcançado com a diminuição da formação e acúmulo desses produtos através do melhor controle glicêmico. Além disso, muitas pesquisas estão sendo realizadas para encontrar um medicamento que seja capaz de inibir a formação e os efeitos dos AGEs nos tecidos. A aminoguanidina demonstrou eficácia na inibição do entrecruzamento ocasionado pelos AGEs e as proteínas do plasma e colágeno, retardando a evolução de lesões microvasculares encontradas na retina e glomérulos de animais diabéticos.

Em diabéticos, a atividade dos neutrófilos polimorfonucleares está modificada devido à diminuição da quimiotaxia, aderência, fagocitose e destruição intracelular, o que diminui a capacidade imunológica e a resposta inflamatória desses pacientes. Estas alterações são causadas, em parte, pela hiperglicemia e acúmulo de AGEs, que provocam ativação contínua dos polimorfonucleares (resposta hiper-inflamatória) com ativação espontânea da cadeia oxidativa e liberação da mieloperoxidase, elastase e outros elementos dos grânulos neutrofílicos.

As características funcionais de diversas moléculas da matriz extracelular são alteradas pela ação dos AGEs. O colágeno foi a primeira proteína em que se observou a presença de ligações intermoleculares covalentes produzidas pelos AGEs. O menos sensível à degradação enzimática é o colágeno glicosilado. Isso dificulta uma cicatrização normal do tecido danificado, o qual é observado com colágeno tipo IV proveniente da membrana basal glomerular quando exposta à ação das metaloproteinases. A formação de AGEs no colágeno tipo IV na membrana basal dificulta a associação lateral dessas moléculas em uma estrutura tridimensional complexa que gera reticulação das fibras de forma anárquica, causando aumento da permeabilidade. No colágeno tipo I, a agregação molecular resultante induz certa distorção da estrutura molecular da fibrila.

O diabetes melito está relacionado a diversas alterações que podem predispor à doença periodontal. Dentre elas, destacam-se as alterações bioquímicas, como produção de AGES, hiperglicemia intracelular gerando distúrbios nas vias do poliol, alterações na saliva, distúrbios imunológicos, como redução da função dos neutrófilos e aumento da produção de citocinas e mediadores inflamatórios, alterações genéticas que aumentam a probabilidade de desenvolvimento da doença periodontal e lesões teciduais, como comprometimento do metabolismo do colágeno, aumento da permeabilidade vascular e espessamento da membrana basal capilar.

Os AGEs parecem ser um dos principais responsáveis pelas alterações que levam à doença periodontal, pois estão relacionados à diminuição da eficiência dos neutrófilos, aumento da destruição dos tecidos conjuntivo e ósseo, danos vasculares e produção exagerada de mediadores inflamatórios.


http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0004-27302007000700005

terça-feira, 24 de agosto de 2010

EFEITO DE PRODUTOS FINAIS DE GLICAÇÃO AVANÇADA SOBRE O ÍNDICE DE APOPTOSE DE ILHOTAS PANCREÁTICAS

EFEITO DE PRODUTOS FINAIS DE GLICAÇÃO AVANÇADA SOBRE O ÍNDICE DE APOPTOSE DE ILHOTAS PANCREÁTICAS MURÍDEAS
Costal FSL1; Coimbra CN1; Oliveira ER1; Passarelli M2; Correa-Giannella MLC1
1Disciplina de Endocrinologia e Metabologia Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP); 2Departamento
de Clínica Médica da FMUSP
8º congresso paulista de diabetes e metabolismo. Águas de Lindóia, 15 a 18 de maio 2008. Arquivos Brasileiros de Endocrinologia e Metabologia.

Introdução: A falha na produção de insulina pelas células-b do pâncreas é uma característica comum do diabetes melito (DM) tipo 1 e tipo 2. Várias evidências sugerem que a apoptose seja a principal forma de morte das células-β nestas desordens, devido às características inerentes ao seu fenótipo especializado, inclusive no DM 2, em que a glico e a lipotoxicidades podem induzir apoptose. Os produtos finais de glicação avançada (AGEs) que se formam a partir de proteínas cronicamente expostas à hiperglicemia interagem com o receptores scavenger tipos I e II (Scarb 1 e 2), CD36, e com seu receptor específico (AGER) e desencadeiam vias de sinalização que induzem estresse oxidativo, aumento de citocinas inflamatórias e aumento da transcrição do NF-κB, com conseqüentes danos celulares. Estudos em linhagens de células-β e em ilhotas pancreáticas demonstraram que os AGEs podem causar diminuição da biossíntese da insulina e estresse oxidativo capaz de desencadear apoptose, contudo, os efeitos dos AGEs sobre a viabilidade de ilhotas pancreáticas não foram extensivamente investigados.

Objetivos: Investigar a expressão de receptores de AGEs em ilhotas pancreáticas murídeas, bem como os efeitos dos AGEs no índice de apoptose de ilhotas mantidas cronicamente em concentrações suprafisiológicas de glicose.

Material e Métodos: Ilhotas extraídas de ratos Wistar mantidas em meio de cultura contendo 23 mM de glicose foram tratadas com 5 mg/L de uma das três preparações de AGEs (albumina glicada, glioxal ou metilglioxal) por 48, 72, 96 e 120 horas. Para a análise da apoptose celular, foi utilizado o método de detecção de fragmentação de DNA (kit cell death detection Elisaplus) e a expressão dos genes Scarb 1, CD36 e Ager foi avaliada por RT-PCR.

Resultados e conclusões: As ilhotas pancreáticas expressam RNA dos três receptores de AGEs analisados. Em 48 horas, os AGEs promoveram diminuição do índice de apoptose em relação às ilhotas não tratadas, enquanto após 72, 96 e 120 horas, os AGEs aumentaram o índice de apoptose em relação às ilhotas não tratadas. O aumento do índice de apoptose de ilhotas em cultura expostas aos AGEs por períodos prolongados está de acordo com os dados disponíveis na literatura para outros tipos celulares, entretanto, o achado de redução do índice de apoptose observado em ilhotas expostas aos AGEs por 48 horas foi inesperado. Sabe-se que a interação dos AGEs com o AGER ativa o NF-κB, um fator de transcrição crítico para a expressão de genes pró- e antiapoptóticos, dependendo do tempo de exposição, do tipo celular e da cronicidade do estímulo. Assim, como o evento final na célula reflete um balanço entre os fatores pró e antiapoptóticos, pode-se levantar a hipótese de que em menores tempos de exposição, os AGEs favoreçam um perfil antiapoptótico das ilhotas pancreáticas, mas que a cronicidade do estímulo favoreça um perfil pró-apoptótico, o que poderia contribuir para a perda de células-β em situações de hiperglicemia crônica.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

AGEs e preparo dos alimentos

http://apps.einstein.br/revista/arquivos/PDF/1664-ECv8n2p96-7.pdf


Rosana Maria Cardoso, Miguel Ângelo de Góes Junior, Bento Fortunato Cardoso dos Santos.
A influência da forma de preparo dos alimentos no desenvolvimento de doenças crônicas. Educ Contin Saúde. 2010;8(2 Pt 2): 96-7.

MONTAGNER, 2010 Além disso, os grupos carbonila podem ser introduzidos em proteínas via reação com aldeídos derivados da peroxidação lipídica (MDA) ou gerados a partir da reação de redução de açúcar (glicose) ou produtos de sua oxidação com resíduos de lisina (reações de glicação e de glicoxidação formando carboximetil-lisina) (VASCONCELOS et al., 2007, ELLIS 2007).